Violência Contra as Mulheres

Como todos sabemos, a sociedade atual é fortemente marcada pela desigualdade de género, o que se faz sentir em contextos como o mercado de trabalho e o ambiente familiar, conjugando-se diversas variáveis para a conceção de uma dominação do sexo masculino, o que, inevitavelmente, tem implicações no comportamento violento de alguns homens em relação às mulheres. A concretização mais visível desta oposição entre a agressividade e a passividade, que caracteriza os estereótipos em torno do sexo feminino, é a violência doméstica, que esteve na base de grande parte dos pedidos de apoio chegados à RAFMVHT em virtude de homicídio na forma tentada em 2019. Constata-se que 87,5% desses pedidos foram feitos por mulheres, sendo o sexo feminino o maior alvo deste tipo de atuações.

Contudo, e ao contrário do que muitas vezes se pensa, a violência pode ou não ser física. Ainda no foro doméstico, temos a violência emocional, económica, psicológica e sexual. Já fora do ambiente familiar, encontramos a violência no namoro, o femicídio, a violência sexual, que pode ser apresentada nas formas de assédio sexual, violação, violação corretiva, que está diretamente relacionada com a tentativa de “conversão” heterossexual, onde e vítima é homossexual – exemplo que nos deve fazer refletir sobre a toxicidade da heteronormatividade – e ainda, a “rape culture”.

Como se não bastasse, inserem-se ainda outras variantes, nas quais encontramos tráfico humano, mutilação genital feminina, casamento infantil, perseguição, violência direcionada a mulheres migrantes e refugiadas, bem como a mulheres com incapacidades, o que é mais comum do que imaginamos. Mais, um problema que se desenvolveu paralelamente à evolução das redes sociais, a violência digital ou online, que parte do cyberbullying, “sexting” sem consentimento – as nudes indesejadas e, por fim, “doxing” que se trata de uma divulgação não autorizada de informações pessoais de vítimas destes tipos de violência.

Só em Portugal, no ano de 2019, cerca de 8.394 mulheres foram vítimas de crimes e outras formas de violência, enquanto 1.617 vítimas de atuações deste tipo foram homens, este desequilíbrio é preocupante. Mas este e um fenómeno com que muitas mulheres lidam, independentemente da sua nacionalidade, aliás, nos últimos 12 meses, 243 de mulheres e meninas (dos 15 aos 49 anos) em todo o mundo foram vítimas de violência sexual ou física por parte de um parceiro íntimo. A violência contra a mulher não parece ter cessado, aliás, nesta nova realidade, parece tender a aumentar. Dando como exemplo a violência doméstica, esta tem-se agravado fortemente com a pandemia, em virtude de muitas mulheres terem sido obrigadas a permanecer em casa com o seu agressor. De acordo com a Diretora Executiva da UN Women, quanto mais Estados decretam o confinamento, mais linhas de ajuda e abrigos contra violência doméstica são relatadas, situação sinalizada por inúmeros parceiros da sociedade civil, ativistas pelos direitos das mulheres e autoridades governamentais em países como a Argentina, Canadá, França, Alemanha, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.

Posto isto, apelamos a todas as mulheres que sofrem de qualquer das formas de violência supramencionadas para que, sabendo que não estão sozinhas, ganhem coragem de expor os seus casos, para que saiam do crime em que se encontram. Ninguém pode ameaçar direitos que são nossos. Queremos ainda alertar ao papel que todos nós podemos ter na amenização deste problema, se estivermos atentos ao que nos rodeia e atuarmos da maneira mais indicada, de modo a não colocar a vítima em risco. Não podemos ignorar esta situação.

 

Sabe mais em:

https://www.womenshealth.gov/relationships-and-safety/other-types

https://www.unwomen.org/en/what-we-do/ending-violence-against-women/faqs/types-of-violence 

https://apav.pt/apav_v3/index.php/pt/estatisticas-apav

https://www.unwomen.org/en/news/stories/2020/4/statement-ed-phumzile-violence-against-women-during-pandemic