O caos no Afeganistão. Um assunto de todos nós.

Por Beatriz Mestre

Ativista da ReAJ – Rede de Ação Jovem

 

A comunidade internacional deparou-se recentemente com a notícia do retirar das tropas americanas do Afeganistão, num movimento preparado pelo presidente Joe Biden para, nas palavras do quadragésimo-sexto presidente dos EUA, “evitar um banho de sangue”.

Mas o banho de sangue foi inevitável. Numa sincronia verdadeiramente assustadora e a uma velocidade vertiginosa, nunca prevista pela Administração americana, os Taliban apoderaram-se do poder depois do colapso do governo afegão, no seguimento da retirada americana.

Começaram a surgir as imagens que inundaram a imprensa internacional: o caos, o desespero e o horror que se fizeram sentir no aeroporto da cidade de Cabul, enquanto milhares de afegãos desesperados tentavam abandonar o país agarrados a aviões norte-americanos que deixavam o aeroporto.

O choque foi suficiente para reavivar a consciência de que esta situação podia (e deveria) ter sido prevista e evitada da melhor forma, já que não é algo novo. A decisão de retirada americana e o colapso do governo afegão fez com que o país recuasse cerca de 20 anos no tempo, mergulhando, de novo, numa era de terror, marcada pela lei da bala.

O grupo mais prejudicado por toda a situação? As mulheres. Regressaram as proibições, o ódio, a perseguição. O Afeganistão entrou numa máquina do tempo doentia e assustadora.

Milhares abandonaram o país, na esperança de fugir ao retrocesso e encontrar a paz que tanto desejam.

Contudo, há quem lute. Mulheres afegãs são vistas a pegar em armas e a ir à luta pelos seus direitos e pelas liberdades que tanto custaram.

A luta delas também é a nossa, e deve sê-lo todos os dias. Hoje por elas, amanhã por nós. Os direitos das mulheres são Direitos Humanos e deles não devem ser separados.

Cabe-nos a nós, meros espectadores do espetáculo assustador a acontecer no Afeganistão, fazer a nossa parte no acolhimento de quem precisa de nós, de quem precisa de apoio, donativos, um teto.

Não podemos construir muros; devemos, sim, derrubá-los e aproximar-nos do Outro; devemos acolher o Outro e providenciar as condições necessárias para a manutenção da paz. É o nosso papel e a nossa missão enquanto seres humanos.

Enquanto a intervenção militar no Afeganistão ainda é debatida, principalmente porque não é uma posição particularmente popular nos Estados Unidos da América, aquilo que é indiscutível é o facto de que os afegãos a abandonar o país precisam de ajuda para que essa saída seja segura e que o acolhimento de qualidade seja garantido Não podemos deixar que o governo estabelecido pelos Taliban mergulhe o Afeganistão no terror novamente. Não há tempo a perder.

Nunca houve.