“Não é um conflito, é uma ocupação.”, – Afirma K.S., Residente na Palestina

por Ianira Vieira e Ana Faro

ativistas na ReAJ – Rede de Ação Jovem

No dia 23 de junho de 2021, às 18 horas e 30 minutos, a Rede de Ação Jovem (ReAJ) realizou um webinário com base nos recentes acontecimentos na Palestina.

Após a apresentação das oradoras pela moderadora Carolina Esteves, ativista da ReAJ, e um resumo dos eventos no mês passado, a Giulia Daniele, Professora e Investigadora no Iscte-Iul, foi a primeira a intervir.

“Não é um conflito. Não existem duas partes simétricas. Temos um colonialista e um colonizado. Um ocupante e um ocupado.”, disse Giulia Daniele no início da sua intervenção.

A Giulia Daniele salienta que não se pode falar da Palestina só no quadro de eventos do mês passado. Esta posição justifica-se pela continuidade de violência estrutural e normalizada impingida às pessoas palestinianas. Além disso, Giulia Daniele alude sobre a classificação de Human Rights Watch do Estado de Israel, sublinhando a importância de ser uma organização não-governamental israelita, enquanto Estado culpado de crimes de Apartheid. De acordo com Giulia Daniele, o Estado de Israel enquanto Estado culpado de crimes de Apartheid fez-se ainda mais factual desde julho de 2018 com a lei “Jewish Nation State”.

A seguir, K.S. e M.S., irmãs residentes em Rammallah, narraram os impactos da opressão e violência no dia-a-dia na Palestina ou nos territórios palestinianos ocupados.

K. S. que a violência é permanente. Descreve os eventos de maio em Sheik Jarrah como limpeza étnica. Uma limpeza étnica fundamentada em razões arbitrárias que tem expropriado as casas das pessoas palestinianas.

“Temos muitas crises.”, enfatiza K. S.. Desta forma, o cessar-fogo entre o Israel e o Hamas que entrou em vigor no dia 21 de maio não findou a opressão das pessoas palestinianas. Como resultado dos eventos em maio, K. S. relata que milhares de pessoas ficaram sem habitação, crianças ficaram sem acesso à educação, e infraestruturas destruídas colocaram em causa o abastecimento e acesso aos serviços coletivos como água e eletricidade. Por fim, K. S. refere os efeitos na saúde mental das crianças, relatando que existem crianças palestinianas com medo do ruído dos aviões, crianças com pesadelos e insónias.

Por sua vez, M. S. partilhou a sua experiência para nos elucidar sobre alguns aspetos que boa parte desconhecia. Assim, explicou-nos que os palestinianos e palestinianas têm bilhetes de identidade com cores diferentes que atribuem capacidades de ação distintos, principalmente na questão de mobilidade. Neste sentido, através de exemplos pessoais, apresentou o bilhete de identidade de cor verde para as palestinianas e os palestinianos na Cisjordânia que não têm permissão para entrar, por exemplo, em Jerusalém ou em Israel de todo. E o bilhete de identidade de cor azul para os palestinianos e as palestinianas que lhes habilitam maior mobilidade. Além de restrições de mobilidade, M. S. refere como este sistema dificultoso restringe as relações interpessoais das pessoas palestinianas. Antes de ponderar matrimónio, caso os bilhetes de identidade sejam diferentes, é preciso considerar se é capaz de passar por um processo difícil e longo para obter permissão de residência renovável anualmente com muitas condições.

Do mesmo modo, Susana C. Gaspar, em representação da Amnistia Internacional, disse que é preciso mudar a forma como falamos sobre esta questão:

“Não é um conflito”, referiu Susana C. Gaspar.

A Susana Gaspar mencionou a dificuldade de manter situações de emergência de longo curso na agenda mediática e pública. Por isso, disse que como académicas, ativistas e indivíduos não podemos deixar de falar sobre o que se passa na Palestina. Falar com outras pessoas, partilhar petições e relatórios, exercer pressão nas empresas e nos governos, são medidas que podemos tomar como sociedade civil para mobilizar pessoas para o que se passa na Palestina.

Por isso, vamos continuar a falar sobre Palestina. Vamos continuar a exigir justiça e fim de opressão das pessoas palestinianas. A Amnistia Internacional tem requerido o fim de violência e repressão das pessoas palestinianas, por esse motivo, partilhamos a petição “End the violence in Occupied Palestinian Territories” (https://www.amnesty.org/en/get-involved/take-action/end-the-violence-in-occupied-palestinian-territories/).