Mulheres e Educação

 

“A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais (…)”

(Artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos)

 

Fontes oficiais afirmam que atualmente, apesar do progresso, ainda existem inúmeras regiões do mundo onde a educação não é acessível às populações. Dito isto, é estimado que atualmente cerca de 16 milhões de raparigas nunca foram à escola, representando as mulheres dois terços de um total de 750 milhões de adultos com pouca ou nenhuma literacia.

As principais razões para este facto são sobretudo a localização geográfica, casamento infantil e gravidez precoce, violência de género e a intransigência com que se cumprem as tradições que limitam as mulheres aos seus papéis mais básicos (serem esposas, mães e donas de casa), entre muitos outros.

A pobreza é o fator que mais determina se é permitido às meninas irem à escola e completarem a sua educação, uma vez que dada a existência – em muitos casos – de inúmeras outras desvantagens, tais como a fraca acessibilidade, pertencer a uma minoria étnica ou ter uma deficiência, é o rendimento da família que vai determinar se existe essa possibilidade.

Por outro lado, em especial em países dominados pelo conflito, existe o medo de que as raparigas possam ser atacadas e violentadas durante o caminho de ida e/ou volta. Estudos feitos apontam que aproximadamente 60 milhões de raparigas são vítimas de algum tipo de assédio ou violência sexual durante este percurso. É claro que isto acaba por afetar o seu estado psicológico, e tem como última consequência o abandono escolar.

Um outro desafio à educação é o casamento infantil. Raparigas que casam muito jovens têm muito maior tendência a abandonar a escola, estando também expostas a ter filhos muito mais cedo e a maiores níveis de violência por parte dos seus maridos.

De acordo com o Plano Estratégico para a Educação 2030, a educação de mulheres e raparigas é uma prioridade para o desenvolvimento, uma vez que mulheres educadas tendem a estar mais informadas acerca de temáticas como a saúde e a nutrição, têm menos filhos e mais saudáveis e casam mais tarde. Têm também mais tendência para entrar no mercado de trabalho e ganhar melhores salários, de modo que todos estes fatores combinados beneficiam as suas famílias, comunidades e países, levando ao progresso e contribuindo para a diminuição da pobreza.

 

Os Efeitos da Pandemia na Educação das Mulheres

Um dos principais problemas relacionados com a covid-19 é que, com o fecho das escolas, as raparigas – em especial as adolescentes, estão mais sujeitas a tornar-se vítimas de exploração sexual, gravidez e/ou casamento forçado, o que terá como consequência que estas não retornem quando as escolas reabrirem.

Outra questão que poderá influenciar o regresso das raparigas à escola após a sua reabertura é a questão socioeconómica. Já anteriormente à pandemia, observava-se que as raparigas, em particular as que pertencem a meios sociais mais pobres, investem uma grande parte do seu tempo em trabalho doméstico. Com o fecho das escolas,  este fenómeno tem tendência a aumentar, impedindo-as muitas vezes de dedicar o seu tempo aos estudos, o que pode encorajar os pais a forçá-las a permanecer em casa mesmo depois da reabertura das mesmas.

 

Um dos alertas que a Unesco deixa no relatório divulgado em outubro do ano passado é que em muitos países as mulheres continuam a ser retratadas nos livros didáticos como tendo papéis tradicionais de limpeza ou cuidados da casa, deixando de lado posições sociais e económicas ativas. Isto é outra coisa que precisa de ser mudada. Deve haver o incentivo à presença de mulheres em posições de liderança, para haver uma mudança das normas sociais e de género e para, deste modo, servirem como modelos para as jovens.

 

É imperativo que haja uma mudança no sentido da eliminação da disparidade de género no que toca à educação. Só desta forma o acesso, participação e conclusão de meninas e mulheres na mesma poderá contribuir para uma plena expansão da sua personalidade e das suas liberdades fundamentais.

https://en.unesco.org/themes/women-s-and-girls-education (Unesco)

https://expresso.pt/sociedade/2020-10-09-Meninas-frequentam-mais-a-escola-mas-igualdade-na-educacao-ainda-esta-longe

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7262171/ (US National Library of Medicine)

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7292576/ (US National Library of Medicine)

 

texto escrito por Vanda Elias e Carolina Esteves, ativistas na ReAJ