É tempo de passar da exploração à preservação

Por Marta Ferreira,
Ativista da ReAJ

 

Hoje, 5 de junho, é o Dia Mundial do Ambiente, e, mais do que nunca, a sua celebração é fundamental.

Todos os anos vivemos este dia com um foco diferente: este ano o tema é Beat Air Pollution, com a China como anfitriã.

A poluição tem diferentes origens, desde os transportes à indústria agropecuária, passando pela queima de resíduos a céu aberto e pela acumulação de lixo em aterros sanitários, sendo que todos levam a que a poluição seja atualmente considerada altamente mortal.

A poluição afeta desproporcionalmente a população, sendo as crianças um dos setores mais vulneráveis, com um estudo recente da Universidade de Harvard a demonstrar que afeta o desenvolvimento do seu cérebro.

Atualmente, estima-se  que haja cerca de 3 milhões de mortes por ano devido à poluição. Para as crianças, representa cerca de 10% das mortes abaixo dos 5 anos, e cerca de 50% das mortes por pneumonia são causadas pela poluição. O ar poluído agrava também o risco de asma e doenças cardíacas.

Embora o tema deste Dia Mundial do Ambiente seja a poluição do ar, há muito mais preocupações a ter em conta. As catástrofes naturais são cada vez mais frequentes e com maior intensidade, destruindo cidades inteiras, o que se traduz num número já elevado de refugiados/as climáticos/as, sendo que o número terá tendência para aumentar, com o aumento das catástrofes. (1)

Estas alterações, como sabemos, também têm impacto nos recursos dos países, comprometendo a segurança alimentar das populações. A água, já contaminada por micro-plásticos, torna-se progressivamente mais escassa, e há cada vez mais secas extremas. Rios fundamentais para a sobrevivência das populações veem o seu caudal extremamente reduzido, ou imensamente poluído, como é o caso do rio Ganges na Índia, um rio que é sagrado para muitas pessoas – e, segundo o India Pollution Project, é considerado o rio mais poluído do Mundo.

Não nos podemos esquecer que os impactos desta crise já estão a ser mais severos nas populações mais frágeis: as crianças, como já referi, e as pessoas idosas, mas principalmente as populações nos países mais pobres, com infraestruturas mais frágeis, e, assim, menos eficazes a resistir às catástrofes climáticas.  São também locais do Mundo onde a saúde não é tão acessível, e, como tal, os efeitos da poluição são muito mais catastróficos e mortais. Também as populações indígenas que se veem despojadas das suas terras ancestrais para exploração agropecuária ou petrolífera. Estas populações estão a pagar o preço da industrialização e do consumo em massa, sem sequer recolherem os benefícios – sobre este tema é interessante ler mais na Revista Agir da Amnistia, no número 3 da série IX.

Embora o tempo se esteja a esgotar, ainda há lugares do Mundo onde ativistas climáticos/as são perseguidos/as, presos/as ou assassinados/as por lutarem por uma mudança – em 2017 foram 207, em 22 países, segundo o relatório anual da Global Witness, 2017 .

 

Greve Climática Estudantil, Março 2019

Como podemos ver, a crise climática que vivemos atualmente é uma crise transversal a todas as áreas, afetando todos os setores da sociedade, e, portanto, necessita de toda a gente para a resolver. É preciso que os Governos ponham este assunto no topo das suas agendas, e para isso é preciso que nós lhes demonstremos o quão importante isto é.

Não basta reciclar e diminuir o tempo que passamos no banho – embora esses continuem a ser hábitos importantes! – precisamos de uma mudança no nosso modo de viver enquanto sociedade, precisamos de aprender a viver em simbiose com o ambiente, respeitá-lo e protegê-lo, respeitar os ritmos de reprodução das espécies e de renovação dos recursos. Precisamos de modificar radicalmente o modo como a economia funciona. Acabar com a extração excessiva dos recursos e a sobre-exploração dos solos, com a utilização dos combustíveis fósseis e transitar para energias renováveis.  Temos que parar de consumir bens descartáveis e temporários desnecessários e reutilizar o que temos. Deixar de produzir para deitar fora e passar a produzir para durar.

O Dia Mundial do Ambiente é um dia para nós, todos e todas nós, e um dia feito por nós. Este é o nosso dia, para tomarmos as rédeas do nosso futuro e lutarmos por um ambiente saudável, como é nosso direito consagrado na nossa Constituição e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Este é um dia para fazermos algo pelo nosso mundo, mas também para percebermos que este dia não chega, que é preciso aceitarmos que esta é uma causa para trazermos para as nossas vidas, para o modo como as vivemos.

Felizmente, por todo o Mundo há muitas pessoas que já estão a lutar por nós, como a Greta Thunberg e os/as jovens que se lhe juntaram nas Greves Climáticas Estudantis pelo Futuro. Aquilo que importa agora é percebermos que não só podemos fazer algo para ajudar, como temos que o fazer.

 

 

Como Gary Snyder diz no clássico texto da ecologia: “A Prática da Natureza Selvagem”:

“A casa, claro, é tão vasta quanto a fizeres”

Precisamos de perceber que a nossa casa é todo o planeta, que estamos interligados e nos influenciamos de inúmeras maneiras entre nós e com a natureza. A nossa casa precisa de ser protegida a todo o custo, porque falta pouco para ser tarde de mais.

Temos 12 anos para salvar o nosso planeta. Neste momento, já há pessoas que são forçadas a deixar as suas vidas, a deslocar-se, porque as terras já não são seguras ou habitáveis. Isto é uma questão de sobrevivência. Encarem-na como tal e façam os vossos representantes políticos/as perceberem-no também. Neste Dia Mundial do Ambiente, juntem-se a nós, pelo nosso futuro.

Ajuda Nonhle e a sua comunidade na sua luta contra uma empresa mineira que quer explorar a sua terra

Ajuda as mulheres Equatorianas que estão a tentar salvar a floresta Amazónica a todo o custo

Exige justiça pelo assassinato da ativista ambiental Berta Cáceres e exige a proteção de todas as pessoas que continuam a sua luta nas Honduras

 

Greve Climática Estudantil, Março 2019

 

Fontes:

Leituras complementares:

Artigo: Amnistia Portugal, “Países das americas podem fazer história com assinatura de tratado regional sobre o ambiente”, Agosto 2018 (05.06.2019)

Relatório: Special Report “Global Warming of 1.5º“, 2019 (.5.06.2019)