Dia Internacional de Reflexão sobre o Genocídio de Ruanda

Por Sara Nóbrega,

Ativista da ReAJ – Rede de Ação Jovem

 

Este domingo, dia 7 de abril, assinala-se o 25º aniversário do genocídio de Ruanda, um desastre humano que ceifou mais de oitocentas mil vidas em apenas cem dias.

 

O que foi o genocídio de Ruanda?

Os Tutsi e os Hutus constituem os dois grupos de uma divisão social unida pela mesma língua nacional (kinyarwanda) de Ruanda, sendo a minoria constituída pelos Tutsi. A tensão entres estes era algo que vinha a crescer desde já há alguns anos, principalmente durante o período colonial, quando os Belgas, os então colonizadores, classificaram os Hutus como superiores, e, consequentemente, nas décadas seguintes foram estes quem beneficiaram de melhores condições de trabalho e oportunidades  relativamente aos Tutsis.

Quando Ruanda se tornou independente em 1962, os Hutus tomaram a liderança e os Tutsis passaram a ser culpados de todo o mal naquele país.

Entretanto, além da guerra civil que havia começado em 1990, a situação económica do país estava a piorar e o então presidente Juvenal Habyarimana começava a perder popularidade.

 

O ínicio do genocídio

A morte de Habyarimana, Hutu, a 6 de Abril de 1994, aquando de um acidente de avião que fora abatido, foi a última gota de água que catapultou o início do que seria o maior genocídio em África dos tempos modernos.

Os Hutus culparam os Tutsis pelo crime e quase imediatamente após a morte do presidente, deram-se ordens para abater líderes da oposição, e soldados e gangs organizados saíram à rua massacrando a população Tutsi. As ordens eram estas: ou matas ou serás morto. Não só os Tutsis foram massacrados, como também todos os Hutus que defendiam e apoiavam os Tutsis. A propaganda e a lavagem cerebral foi tal que maridos Hutus assassinavam as suas mulheres Tutsis, e este massacre não conheceu limites: bebés, crianças e mulheres grávidas eram também mortos.

 

Porquê e como é que se deu um genocídio em Ruanda?

Ora, o regime extremista Hutu que então governava em 1994 acreditava genuinamente que a única maneira de manter o seu poder no regime era limpar completamente a população Tutsi.

Além disso, é de salientar que os esforços internacionais para pôr fim a este genocídio, na altura, foram escassos, algo que é profundamente lamentável e vergonhoso:

“Em 1994, o mundo envergonhou-nos a todos quando ignorou os gritos desesperados por ajuda que chegavam do Ruanda. A África e todo o resto da comunidade internacional ficou a marcar passo enquanto centenas de milhares de pessoas eram massacradas”

– antigo secretário-geral da Amnistia Internacional, Salil Shetty.

 

Depois do genocídio

Mas será que, vinte e cinco anos depois, as lições aprendidas com o genocídio de Ruanda foram postas em prática?

Três meses após o início do genocídio, em julho, o governo colapsou e deu-se o fim do massacre, e tal levou a que dois milhões de Hutus fugissem para a República Democrática do Congo. Embora o massacre em Ruanda tenha acabado, a presença de militantes Hutus neste país tem sido a causa do conflito armado que já se estende há alguns anos e que já fez cinco milhões de vítimas. Infelizmente, as maiores organizações pró-paz ainda não foram capazes de pôr fim a esta tragédia.

Há também relatos de jornalistas, políticos/as e defensores/as de direitos humanos que desde o genocídio têm sido perseguidos/as, presos/as, atacados/as e até mortos/as em Ruanda.

Este dia serve não só para lembrar todas as vítimas deste terrível massacre, como também serve de oportunidade para a comunidade internacional reafirmar o seu compromisso na prevenção de futuras atrocidades, e cessação das atuais.

Esse compromisso tem falhado para com as comunidades Rohingya no Myanmar. A limpeza étnica que acontece neste país contra estas comunidades é um crime contra a humanidade e tem que acabar já. Exijam-no aqui.

 

 

Fontes:

https://www.amnistia.pt/o-mundo-continua-impavido-apesar-da-vergonha-do-genocidio-no-ruanda/ acedido a 5 de abril de 2019

http://www.auschwitzinstitute.org/news/aipr-marks-the-international-day-of-reflection-on-the-genocide-in-rwanda/ acedido a 5 de abril de 2019

https://www.bbc.com/news/world-africa-13431486 acedido a 5 de abril de 2019