Dia Internacional Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia

Por Beatriz Mestre

Ativista da ReAJ – Rede de Ação Jovem

 

Dia 17 de maio tem-se tornado um dia especial desde 1990, dia em que a Organização Mundial de Saúde (OMS-ONU) excluiu, finalmente, a homossexualidade da conhecida lista de doenças mentais, abrindo as portas para uma melhor compreensão daquilo que é a sexualidade, o género e a natureza humana.

Mas, quando fazemos as contas, verificamos algo assustador: 1990 foi apenas há 32 anos. A homossexualidade apenas deixou de ser considerada uma doença mental há menos de meio século, o que, a nível histórico, é apenas uma gota de água num imenso oceano. O progresso é incrivelmente recente, e os estigmas ainda estão, infelizmente, enraizados na nossa sociedade.

Estamos, portanto, ainda no início deste caminho rumo à igualdade e ao amor. Rumo a um mundo onde ninguém é discriminado por coisas que não controla, em que o amor não é tabu, não é ilegal, não é errado.

O dia de hoje deve ser, simultaneamente, um dia de celebração e de reflexão e memória: celebramos quem somos, quem amamos, abraçamos uma vida despida de preconceitos, de ódios, de violência; mas lembramos quem, às mãos desse ódio, dessa incompreensão, dessa violência, já não está connosco. Lembramos as vítimas da homofobia, as vítimas da transfobia, as vítimas da bifobia, que é, discutivelmente, a mais discreta destas formas de preconceito.

A verdade é que qualquer pessoa queer corre perigo nas mais variadas circunstâncias: são os sintomas da vivência numa sociedade heteronormativa e marcadamente rígida, de maneira nenhuma aberta à diferença e à diversidade dos Seres Humanos. Devemos proteger-nos uns aos outros, cuidar dos nossos amigos, e mesmo dos desconhecidos que encontramos pelo caminho, nesta viagem rumo à dignidade.

Sejamos parte da comunidade LGBTQIA+ ou aliados da mesma, é parte da nossa missão lutar pelos direitos de todos, lutar contra a intolerância daqueles que nos querem ver calados, quiçá mortos. Não passarão.

A homossexualidade ainda é um crime capital em, pelo menos, seis dos países que constituem a ONU. Até quando toleraremos isto? É crime em 70 países, chamam-lhe “ato não natural”, utilizam todos os tipos de argumentos abjetos para justificar a execução de pessoas cujo único crime é amar alguém.

Num mundo em tanta necessidade de empatia, parece que não avançamos, ou que o fazemos de forma lenta e insuficiente:

Temos transfóbicos e homofóbicos sentados na Casa da Democracia, a decidir o futuro do nosso país e a usar a nossa causa como bandeira para alcançar popularidade. O populismo, que nos odeia, usa-nos agora como arma de arremesso. Foi este o estado a que chegámos.

Todos os dias devem ser dias de luta e de celebração; de ativismo e de amor; para que chegue o dia em que todos caminham pela rua sem medo, de cabeça erguida, com todo o orgulho que a existência nos deve dar.

Pelo fim da violência, pelo fim do ódio, pelo fim da fetishização e da manipulação a que assistimos todos os anos, por esta altura. Marcas e corporações que apoiam e são apoiadas por intolerantes a utilizar uma versão do próprio logo com um arco-íris não é ativismo, é mais violência – desta vez, passivo-agressiva.

Exigimos mudança concreta, igualdade, respeito.

É uma questão de humanidade e da Humanidade.

Estamos aqui por um motivo – a luta é de todos.

Amor é amor.