Dia Internacional Dos Direitos Humanos

Texto da ativista Marta Vences

Artigo 1º
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi assinada há 71 anos, redigida por um representante do Ocidente, um do Islão e um do Confucionismo, numa tentativa de reunir num documento aquilo que há em comum nas várias culturas do Mundo, aquilo em que todos acreditamos no meio da discórdia.
Estes direitos são universais e inalienáveis, o que quer dizer que todas as pessoas deste Mundo são detentoras deles, e nada que façam, digam ou acreditem, lhos pode tirar. Ninguém lhos pode tirar.
Após estes 71 anos, o mais incrível é perceber que grande parte do Mundo nunca leu esta declaração. Grande parte do Mundo não conhece estes seus direitos que aqui foram descritos, e, portanto também não sabe quando estes estão a ser violados. Há em nós, no entanto, algo que nos vem cá de dentro, uma revolta interna que sentimos quando somos magoados, mesmo que não conheçamos este documento, um sentimento de injustiça que brota do nosso âmago quando vemos alguém sofrer. Todos nós temos estas reações, em maior ou menor medida, quando paramos para olhar para o outro e vemos nele isto que é igual a nós.
Falamos em evolução social, histórica e ética, evolução essa que culminou na Declaração, e que nela se baseou desde então. Mas apesar de tudo o que se fala, ela não é vinculativa, os Estados instrumentalizam-na para atingirem os seus fins, e ignoram-na quando não lhes convém.
Vemos diariamente violações destes direitos nas redes, nos jornais, nas televisões, tantas vezes que ficamos dormentes, adormecemos para estes problemas para não sofrermos com eles, chegamos até a questionar se este documento lindo e tão bem escrito não passará apenas disso, de uma ideia linda. Neste momento vemos a ascensão de forças políticas que negam muitos destes direitos, que procuram destruir muito do que foi construído com esforço nos últimos anos, vemos avanços a recuar, vemos muito ódio, muita raiva, muita insatisfação, muita infelicidade. Mas, como disse Nelson Mandela, este ódio não nasceu connosco. Nós aprendemo-lo, e da mesma maneira que o estamos a aprender, podemos voltar a aprender a amar, aprender a sentir empatia uns pelos outros.
Mas os Direitos Humanos não são apenas uma ideia linda, não são apenas o produto do Ocidente, são a descrição de algo muito mais primário que nos une a todos – a nossa humanidade, o nosso sofrimento e as nossas alegrias, a nossa vontade de viver e ser felizes. E nisso, todos nós nascemos livres e iguais, independentemente das nossas crenças, religiões, nacionalidades ou etnias.
Temos que viver as nossas vidas como se fosse possível mudar o Mundo para melhor, pois só assim conseguiremos fazê-lo. A luta pelos direitos humanos é diária, e é tão longínqua como próxima – é a minha irmã, o meu pai, os meus amigos, a minha vizinha, mas também aquele rapaz que neste momento está a ser forçado a pegar numa arma e a perder a sua inocência numa guerra que não é a sua, longe da sua família, privado de um futuro melhor.
Podemos todos fazer mais no nosso dia a dia, podemos estar mais atentos uns aos outros, ouvir-nos, compreender-nos, falar quando vemos algo que nos provoca aquela revolta visceral, informar-nos, partilhar aquilo que aprendemos, dar o nosso tempo a causas que procurem defender alguns destes direitos, defender quem não se conseguir defender sozinho. Podemos unir-nos em espírito de fraternidade, dar as mãos e caminhar juntos para um Mundo melhor. Todos os dias. Porque os direitos humanos não são uma data num calendário. Os direitos humanos são inerentes à condição humana. São nossos. Lutem por eles, todos os dias.