26 anos do Genocídio no Ruanda

por Marta Vences

ativista da Rede de Ação Jovem

 

Há 26 anos, precisamente neste dia, começou um Genocídio que durou 100 dias.
100 dias de perseguições, assassínios, tortura, violência sexual, terror e desespero.
A comunidade internacional ficou parada e só interveio demasiado tarde.
800.000 pessoas perderam a vida, e muitas outras ficaram marcadas para sempre.

Aqui na Europa, todos estamos familiarizados com o Holocausto, e os milhões de vidas que foram tiradas.
Dos escombros de uma Europa em ruínas e um Mundo arrasado, prometemos: nunca mais.

O Genocídio do Rwanda começou em 1994, 49 anos após o Holocausto.

Nunca mais.

 

O catalisador foi o abate de um avião onde viajavam o Presidente do Ruanda Juvénal Habyarimana e o Presidente do Burundi Cyprien Ntaryamir, que morreram. Mas um genocídio não começa de um dia para o outro – é preparado ao longo de anos. O extermínio começou logo no dia do acidente de avião, foram distribuídas catanas e armas à população, a rádio incentivava os ataques e transmitia informações de esconderijos, o exército foi mobilizado – foi o culminar de anos de discurso anti tutsi, de incentivo ao ódio.

Nunca mais.

 

Os sinais veem-se com discursos que atacam um grupo ou etnia e a classificam como diferente, com a simbologia própria que lhe é atribuída, com a desumanização, a organização da população contra aquele grupo, a polarização da sociedade – estes são os 6 primeiros estágios do genocídio enumerados no Genocide Watch.

Nunca mais.

 

Segue-se a preparação, a perseguição e, por fim, o extermínio. Quando tudo acaba, sobra a negação.

Nunca mais.

 

Mas o Mundo não aprendeu – ao longo dos últimos 26 anos, assistimos a demasiadas repetições desta crueldade. Várias populações do Mundo estão neste momento a passar por alguma das fases de que falei, como é o caso da perseguição dos Rohyngia no Myanmar e dos campos de “reeducação” dos Uigures na China.

Nunca mais.

 

Pessoas perseguidas por aquilo que são, reduzidas a bodes expiatórios de governos incompetentes e desumanos. Expulsas das suas casas, despojadas dos seus bens, sujeitas a esterilizações forçadas, ao rapto dos seus filhos. Torturadas, violadas, mortas.

Nunca mais.

 

Os que sobrevivem ficam com marcas que o tempo não faz desaparecer.

Quando será a última vez que diremos “Nunca mais”?